Palestrantes discutem saúde mental integral, doenças crônicas não transmissíveis e a importância da atividade física nos indicadores de saúde da população

 

 

Na última quarta-feira (23), a Academia Nacional de Seguros e Previdência – ANSP realizou uma palestra sobre “SDOH – Determinantes sociais de saúde”. A live foi apresentada pelo coordenador da Cátedra de Saúde, Ac. Josafá F. Primo. Teve as participações da vice-coordenadora da Cátedra de Saúde, Ac. Ileana Moura, da managing director da Optum do Brasil, Renata A Soares, da gerente médica da Sharecare, Dra. Jane Teixeira e do mestre em exercício e esporte, professor André Lass.

Em suas considerações iniciais, Josafá destacou a importância da participação dos corretores em um evento como esse. Em sua visão, não adianta apenas pegar uma tabela, ver o preço, fazer a cotação e informar o preço ao cliente. “São diversas as variáveis que influenciam a saúde, como, por exemplo, questões sociais e fatores socioeconômicos. Além disso, existem doenças que são causadas por fatores biológicos, que podem agravar o risco da contratação de um plano de saúde e, teoricamente, da própria doença, se não houver uma interação de promoção de saúde e de gestão de risco

Ileana Moura reforçou que o SDOH, Social Determinants of Health, na sigla em inglês, que significa determinantes sociais de saúde, é um tema em voga entre os players de saúde do mercado nacional. Isso porque 60% do que chamamos de problemas de saúde está, na verdade, relacionado a outras condições que não apenas as da doença em si. “Classicamente a gente conhecia o tabagismo, o etilismo, mas hoje em dia sabemos que não são só esses pilares que norteiam a situação de saúde de uma pessoa. Atualmente entendemos que a saúde tem um enfoque muito mais comportamental do que antigamente”, disse. Na visão da palestrante, é necessário entender como a pessoa vive, como ela trabalha, com que ela se estressa e como ela se exercita para poder aplicar uma medicina mais centrada no paciente, o que é vital para oferecer um nível de saúde mais elevado”, reforçou.

Em sua apresentação, Renata falou sobre saúde mental integral e a importância de programas que vão além do cuidado psicológico. A definição de saúde da Organização Mundial de Saúde engloba saúde mental, social e física, um sistema complexo que atua de forma integrada.  Ou seja, para que uma pessoa seja considerada saudável, ela precisa apresentar um índice satisfatório de bem-estar nessas três dimensões, não só a ausência de enfermidades.

De acordo com a gerente médica, muito tem se falado sobre saúde mental durante a pandemia e faz-se uma associação quase que direta entre saúde mental e a parte psicológica. “Essas duas coisas são tidas quase como equivalentes. Porém, o apoio psicológico à saúde mental é apenas a ponta do iceberg. Porque é importante olharmos o paciente como um todo, considerando todas as dimensões que a OMS considera e, principalmente os aspectos social, familiar, pessoal, financeira, jurídica, nutricional, física e tudo o que envolve crescimento pessoal e realização”, esclareceu.

Uma pesquisa realizada pela OMS, com 130 países, em outubro de 2020, revelou que 89% desses países relataram a importância do cuidado com a saúde mental, principalmente em momentos como o da pandemia. Entretanto, apenas 17% deles tinham financiamento para cobrir essas atividades. Existe um gap muito grande entre a percepção de uma necessidade e as reais condições de se fazer algo na prática. Prova disso, é o fato de que 30% das pessoas sofreram interrupção no acesso a medicamentos para transtornos mentais, neurológicos ou o uso de substâncias. 78% relataram interrupções parciais nos serviços de saúde mental na escola e 75% no local de trabalho. Outros 35% apontaram ter havido interrupções nas intervenções de emergência. “A pandemia agravou a seriedade, a necessidade de implementações de melhoras no nosso sistema de saúde, que passa por uma situação muito delicada”, alertou.

Determinantes Sociais de Saúde e as Doenças Crônicas não Transmissíveis

Em seu painel, Jane Teixeira fez referência ao modelo denominado “Determinantes Sociais da Saúde” propostos por Dahlgren e Whitehead (1991). Como infectologista, a médica admite ter uma tendência a ter um vício de formação e defender o modelo biológico, segundo o qual as doenças são causadas primariamente por idade/nascimento, sexo, por fatores hereditários/genéticos e também de vírus e bactérias.

Segundo ela, além desse modelo biológico é consenso na maioria da sociedade e entre as escolas médicas que o estilo de vida dos indivíduos, tudo o que é comportamental, influencia no processo de saúde e doença. O ambiente em que trabalhamos, o nosso grau educacional, a qualidade dos alimentos que consumimos, empregabilidade, acesso a água potável e o ambiente social onde moramos têm influência direta na nossa saúde. “Mas como é que eu vou comer bem se eu não tenho acesso a comida de qualidade? Uma alimentação rica em carboidrato, por exemplo, em geral é muito mais barata e, portanto, é também a escolha de quem tem pouco dinheiro”, ponderou.

Além desse reflexo óbvio, do social influenciando o estilo de vida, estudos e análises estatísticas dão conta de que essas condições alteram diretamente os fatores de saúde e doença. Do lado financeiro, os impactos refletem na sinistralidade e em onde o dinheiro da saúde coletiva é gasto.

A importância da atividade física nos indicadores de saúde da população

No terceiro painel, André Lass compartilhou dados sobre a saúde mundial extraídos da pesquisa realizada pela Organização Mundial de Saúde (OMS). De acordo com o documento publicado no ano passado, pode-se constatar que a população mundial está vivendo mais e de maneira mais saudável. A expectativa de vida foi elevada em 8% na comparação entre os anos de 2000 e 2016. “Obviamente esse percentual varia de acordo com o poder aquisitivo da população analisada, o que confere aos países ricos uma estimativa potencialmente mais elevada”, considerou.

Ainda sobre as diretrizes de 2020, os autores recomendam que os seus achados sejam alinhados com plano de ação global sobre atividade física projetado para os anos de 2018 a 2030. Além de sugerir estratégias e soluções para a implementação de atividade física em termos populacionais, o plano recomenda que todas as esferas da sociedade participem dessa ação, que em última estância vai trazer benefício a todos. Seu objetivo é uma redução, em termos globais, de 15% na inatividade física em adultos e adolescentes até 2030.

“É um projeto bastante ambicioso dadas as barreiras encontradas, seja pelo poder público ou pelos habitantes de um determinado país. Pois enquanto em comunidades de baixa renda o corpo se move por necessidade mínima de deslocamento, a alimentação de qualidade é uma grande barreira nesses locais. Já em países de alto poder aquisitivo a vida moderna e a tecnologia não nos fazem muito móveis”, analisou.

 

Assista a live completa no canal da ANSP
https://www.youtube.com/watch?v=xJ4LHucmb7Y