A incorporação de critérios de sustentabilidade à estratégia das empresas foi um dos grandes marcos do processo de evolução mundial. Este olhar estratégico a partir de um contexto mais amplo, que envolve não apenas o desempenho econômico-financeiro, mas considera também aspectos ambientais, sociais e de governança, vem ganhando força tanto no ambiente corporativo como na esfera pública.
A mais recente ação nesse sentido foi a publicação da Resolução 4.327 pelo Banco Central do Brasil, que estabelece diretrizes para a implementação de uma Política de Responsabilidade Socioambiental (PRSA) pelas instituições financeiras.
Resultado de uma ampla discussão com a sociedade iniciada em 2011, a norma aponta que a política deve conter as diretrizes que balizam as ações de natureza socioambiental nos negócios e na relação da empresa com suas partes interessadas. Na prática, isso significa que as instituições financeiras devem demonstrar como consideram os riscos socioambientais no processo de gerenciamento das diversas modalidades de risco a que estão expostas.
Essa iniciativa do Banco Central vem ao encontro de demandas atuais da sociedade, que exige cada vez mais das empresas um posicionamento ético e responsável do ponto de vista financeiro, social e ambiental. Nesse contexto, a sustentabilidade deixa de ser apenas um modismo para se consolidar como um desafio global para empresas, governos e sociedade.
Mas a simples adoção de uma miscelânia de táticas e ações isoladas não produz uma estratégia sustentável. A sustentabilidade deve fazer parte do posicionamento estratégico da empresa, orientando sua atuação e decisões.
Além de manter uma comunicação transparente, o grande desafio é contemplar os interesses de todos os envolvidos (investidores, trabalhadores, clientes, governos, ONGs e a sociedade de modo geral) e, ao mesmo tempo, melhorar o seu desempenho nos planos ambiental, social e de governança.
Para isso, é preciso incentivar a criação de valor compartilhado entre todos os públicos estratégicos, incrementando a inovação e o desenvolvimento de negócios sustentáveis a partir da identificação, avaliação e acompanhamento dos riscos e oportunidades associados aos temas ambientais, sociais, econômicos e de boa governança.
Percebendo a importância desse movimento, o mercado segurador se movimentou para consolidar a cultura da sustentabilidade, com o lançamento, em junho de 2012, do PSI – Princípios para Sustentabilidade em Seguros.
Esta, que é uma iniciativa do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente/Iniciativa Financeira – UNEP/FI em parceria com a CNseg (Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização), tem contribuído para a formação de uma nova consciência entre as empresas do setor. Tanto que hoje o Brasil é o país com maior número de participantes no PSI.
É importante ressaltar que os princípios são uma estrutura opcional. Ou seja, não foram desenvolvidos para serem obrigatórios. Por isso, caberá à indústria seguradora arregaçar as mangas e adotar essas práticas em seu dia a dia, em busca de um segmento mais responsável, transparente, consciente e preparado para o gerenciamento de riscos e o desenvolvimento de soluções sustentáveis para o setor.
O grande desafio é disseminar uma cultura de prevenção para educar a população e garantir o seu acesso aos produtos de seguro. Esta é uma atitude sustentável. Ao invés de ficar de braços cruzados, temos que levar informação para a sociedade, engajando as pessoas e empresas para a construção de um novo cenário, mais inclusivo.
Cientes de seu papel cada vez mais decisivo na transformação da realidade socioeconômica, muitas organizações já entenderam que é fundamental ter consciência da importância de suas atividades e da amplitude de suas iniciativas em relação à sustentabilidade.
Ou seja, aprenderam que uma empresa sustentável zela pela qualidade ética e transparente das relações com os públicos de interesse; incorpora interesses legítimos das partes interessadas em seus planos estratégicos; considera o impacto de suas ações no meio ambiente e identifica estratégias para reduzi-los; e, principalmente, assume um posicionamento estratégico e não apenas uma postura legal ou puramente filantrópica.
Diante deste cenário e, neste momento ainda de alguma indefinição, a experiência mostra que as grandes iniciativas podem começar pelo o que, à primeira vista, parece pequeno, rotineiro.
Sim, é preciso pesquisar e inovar para a sustentabilidade. Mas também é preciso manter os gestos corriqueiros como essenciais – cortar custos desnecessários, economizar recursos como água e energia, usar frente e verso do papel, reciclar, reduzir resíduos, otimizar processos logísticos e, fundamentalmente, educar. E, se isso puder ser estendido à cadeia de valor de cada empresa, melhor ainda.
Maria de Fátima Mendes de Lima
É Diretora de Sustentabilidade do GRUPO BBMAPFRE, presidente da Câmara Temática sobre Mobilidade Urbana do CEBDS (Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável), integrante da Comissão de Sustentabilidade da CNseg (Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização) e presidente da Comissão de Sustentabilidade da Câmara Oficial Espanhola de Comércio no Brasil e integrante da Academia Nacional de Seguros e Previdência ANSP.
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