Longevidade em seu conceito mais simples significa qualidade do longevo, ou seja, qualidade daquele que tem muita idade. Longevidade está sempre relacionada com expectativa de duração de vida.

Já seguro é difícil de ser descrito, pois temos uma gama muito variada de tipos de seguros. Creio que, analisando sob o prisma do tema, podemos dizer que o seguro seria social e teria como objetivo a proteção das categorias economicamente mais fracas contra determinados riscos, tais como velhice, invalidez, doença e até o desemprego.

O seguro é peça fundamental se analisarmos a longevidade da raça humana como sendo mais suscetível a acontecer vários tipos de acidentes, invalidez, morte, saúde, etc. Creio que o mercado de seguros deve começar a discutir e analisar com maior profundidade as coberturas que precisam ser oferecidas aos mais longevos. Hoje, poucas companhias tem cobertura para pessoas até 80 anos, assim mesmo, limitando-se o capital segurado.

Gostaria de retornar ao Período Neolítico, que começou aproximadamente em 8000 a.C., quando a expectativa de vida era de apenas 20 anos. Esta situação perdurou por séculos onde as mulheres freqüentemente morriam de parto e a mortalidade infantil era extremamente elevada. Durante a Idade do Bronze, 2200 a 700 a.C., na Europa a expectativa de vida permaneceu semelhante àquela do Neolítico.

Já a partir da Revolução Industrial, no século XVIII, o avanço na longevidade foi marcante, em função da substituição do trabalho manual por máquinas e melhorias nas condições de saúde, nutrição e imunologia.
Desde o século XIX, com todas as modificações tecnológicas e a evolução fantástica da medicina, a expectativa de vida não parou mais de elevar-se, perdurando até hoje e com uma projeção muito grande para o futuro.

Senão vejamos: Em 1955, havia 12 pessoas com idade superior a 65 anos para cada 100 abaixo de 20 anos, numa razão de 12/100. Em 1995, tal razão subiu para 16/100, prevendo-se que para o ano de 2025 esta razão atinja 31/100. O número de pessoas acima de 65 anos em 1998 era de 390 milhões, devendo alcançar 800 milhões no ano de 2025, ou seja, 10% do total da população mundial que deverá ser de 8 bilhões de pessoas.

Por tudo isso e muito mais, os atuários das seguradoras devem começar a fazer cálculos visando a adequação de taxas e limites de capital para atender a um novo segmento da população: “a quarta idade”, pois forçosamente, queiramos ou não, a terceira idade que em algum momento foi considerada até 60 anos, e hoje nós já temos um batalhão de pessoas com mais de 80 anos. Portanto, o mercado precisa se adequar para atender esta faixa de idade. Em 2050 teremos mais de 3 milhões de pessoas com mais de 100 anos.

A redução da natalidade vai fazer com que os pólos opostos se choquem, pois teremos mais pessoas na faixa de 80 anos que se cruzarão com os mais jovens.

Creio que a evolução das ciências será determinante para decidir ou prever até quando a tendência de elevação da expectativa de vida e, consequentemente, a longevidade se estenderão no futuro.

Vários fatores são determinantes e influentes nesta trajetória de longevidade da população. Os hereditários, os climáticos, os ambientais, os alimentares, os comportamentais e os medicinais.

Diversas cidades no mundo já concentram uma população de longevos com idades superiores há 80 anos. Até no Brasil temos uma cidade nesta situação que é Veranópolis, no Rio Grande do Sul, onde a média dos anos vividos é de 84,2 anos.

Um fato bastante interessante que foi publicado pela revista Manchete, já extinta, em seu número 2.281, de 23 de dezembro de 1995, que mostra o lado cômico ocorrido nesta cidade de Veranópolis:
“Um homem de 70 anos chora sentado na calçada de uma rua de Veranópolis. Um conhecido, um pouco mais velho, penalizado, pergunta :

– O que é que houve? Por que você está chorando?

Esfregando os olhos, o chorão responde:

– Porque o papai me bateu!

– E porque você apanhou?

– Porque eu fiz careta pro vovô.”

Um levantamento feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que várias cidades principalmente no sul do País têm população e índices de longevidade muito acentuados. Ter uma vida longa e saudável não é nenhum mistério e está ao alcance de qualquer pessoa disposta a seguir uma dieta equilibrada, fazer exercícios físicos regulares, evitar o estresse e usar suplementos, nutrientes e antioxidantes eficazes, segundo estudo da médica especialista em geriatria e longevidade Odilza Vital.

Na vida moderna são adquiridos diversos hábitos que contribuem para o envelhecimento precoce: uma alimentação rica em radicais livres, em gordura saturada, excesso de bebida alcoólica, fumo, excesso de sol e estresse. Portanto para que se consiga uma vida saudável e chegue-se aos 80,90 ou 100 anos é necessário que as pessoas evitem estes fatores agravantes do envelhecimento.

A doutora Odilza Vital lembra que o uso adequado de suplementos alimentares é fundamental para alcançar uma vida mais longa. Há mais de oito anos ela recomenda para pacientes o extrato de pycnogenol, substância extraída da casca do pinheiro e cujos benefícios foram apresentados apenas recentemente no Congresso sobre Nutrição Funcional e Medicina Ortomolecular, em São Paulo. A endocrinologista explica que o pycnogenol potencializa a ação das vitaminas C e E inibindo a formação de coágulos nas artérias, além de prevenir a arteriosclerose por sua ação vasodilatadora.

Como podemos observar, os médicos que cuidam de pacientes longevos tem se preocupado em fornecer medicamentos que ajudam a combater os radicais livres, além de substâncias que ajudam no combate a determinadas doenças que antes não eram tratadas.

É evidente que a área de seguros também precisa preocupar-se em estudar através de cálculos atuariais, novas tabelas, novos seguros, novas coberturas para os longevos participantes, como já disse, de uma quarta idade, ou seja aqueles que ultrapassam os 80 anos e estão acima da idade média estimada pelos órgãos que controlam este fator.

Hoje, algumas poucas seguradoras têm seguros com valores acanhados que protegem os mais longevos em até 80 anos. Mas, temos que procurar estudar mecanismos e tipos de cobertura para abranger uma legião que chegará aos 100 anos com saúde.

Esta fase da vida acima dos 60 anos já demonstra a necessidade de um maior acompanhamento de todas as áreas, seja médica, seja de educação física, ou mesmo de seguros com coberturas condizentes.

A abertura do mercado de resseguros, creio, poderá ajudar e muito o mercado na busca de novos produtos, novas coberturas com custos balanceados e adequados ao mercado brasileiro.

Creio que todos os órgãos que trabalham com seguro de pessoas deveriam se juntar e criar, conforme nossa ideia um centro de estudos científicos de seguros de pessoas, pois esta deve ser a tônica de estudos dos próximos anos. Algumas resseguradoras já possuem centros de estudo nesta área, mas o Brasil se ressente disto, já que o máximo que apresentamos ao mercado são gráficos retirados dos levantamentos feitos pela Superintendência de Seguros Privados (Susep) ou pelo IBGE.

O Banco Mundial, e outros organismos internacionais, tem se preocupado em lançar coberturas para os menos afortunados, aqueles que ganham menos de US$ 60 por mês, mas deveriam também começar a preocupar-se com os longevos, pois em 2050 teremos três milhões de pessoas na faixa dos 100 anos de idade. Recente edição da revista Veja traz um artigo interessante de como parar o relógio, falando de longevidade. “Pela primeira vez na história, uma geração está conseguindo manter-se jovem e bela por muito mais tempo do que o metabolismo humano parecia permitir” (Veja 15/06/2011). A revista traz também estudo feito pelo biólogo inglês Aubrey de Grey e levantamento do que ele está fazendo no momento.

Grey tem uma ideia fixa: enfrentar a velhice e a morte. Ele aponta os principais problemas que nos levam a envelhecer – e como corrigi-los. São temas já tratados pela medicina, mas ainda em fase inicial.
1. A Mutação Cromossômica em que algumas transformações celulares resultam em tumores malignos. A idéia de como consertar seria através da terapia genética.

2. Gordura nas Células que acumulam um resíduo de gordura chamado lipofuscina e quanto mais, pior para a formação celular;

3. Enrijecimento – À medida que envelhecemos as moléculas começam a se enlaçar uma às outras. Esse movimento provoca o endurecimento dos tecidos. Para consertar seria necessário criar drogas que previnam o entrelaçamento molecular.

4. Morte Celular – As células não divisíveis no coração e no cérebro não são substituídas quando morrem. Para consertar transfusões periódicas de células-tronco farão com que essas células se reproduzam.

5. Doença de Alzheimer – plaquetas amilóides que são produzidas pelo organismo geram doenças degenerativas como o Alzheimer. Para consertar seria necessário criar uma vacina que fará com que as células do sistema imunológico digiram as plaquetas.

6. A Festa dos Radicais Livres – Podem sofrer ataque e sofrerem oxidação causando o envelhecimento. Para consertar teria que ser criado um backup biológico, de modo que as partes sadias do DNA mitocondrial sejam aplicadas no interior do núcleo celular.

7. Rebeldia Celular – No organismo humano existem as “células rebeldes” que se recusam a morrer, provocando desequilíbrio. É o caso da diabetes. Como consertar deveria haver inserção de “genes assassinos”, que destruirão essas células. É evidente que se a medicina chegar a um grau de excelência que possa construir tudo isso não quer dizer que não sofrerão o infortúnio da morte. Acredito que o cientista está buscando uma forma de se manter com a aparência de um jovem, mas, ressalvando-se o que poderia ser considerado como uma utopia, a ciência tem procurado de todas as formas buscar mecanismos que possam ajudar quem precisa e também minimizar as mazelas que as pessoas enfrentam por diversos tipos de doenças.

Por tudo o que vimos entendo que os órgãos do mercado de seguros e resseguros precisam começar a discutir o que fazer para melhorar as coberturas existentes e até ampliá-las para dar mais conforto aos longevos que serão sempre os mais atingidos e que mais necessitarão de coberturas que possam ajudar às famílias.

(Bibliografia: Cadernos de seguros n. 144 de set/2007 – A Longevidade ao Alcance de todos – “Boa Saúde” – Longevidade – Veranópolis/RS – sites do Google – Revista Veja de 15/06/2011)


Lucio Antonio Marques

Diretor Comercial da Previsul
Membro da Academia Nacional de Seguros e Previdência – ANSP
Lucio@previsul.com.br