Alguns analistas avaliam a China como maior parceira econômica do Brasil, portanto é um país do qual devemos nos aproximar cada vez mais. Outros, mais receosos, a veem como ameaça à nossa economia, por exportarmos ma­téria-prima e importarmos produtos industrializados. As críticas abrangem ainda o sistema político, sua forma de lidar com a suposta democracia e a ma­neira de aproveitar o melhor de cada um dos sistemas: socialista e capitalista.

É notável a relação econômica entre os países, assim como a interdependên­cia, e que se intensifica na medida em que crescem os números do comércio bila­teral entre os dois países: US$ 56,3 bilhões em 2010, crescimento de 52% em re­lação a 2009. A China, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, já gastou US$ 31 bilhões com produtos brasileiros neste ano.

Quanto aos investimentos chineses no Brasil, a produção de iPads na uni­dade da Foxxcon em Jundiaí deve consumir US$ 12 bilhões nos próximos cin­co anos. Durante a visita da presidente Dilma ao país, em abril, empresas chi­nesas acenaram com investimentos de US$ 1 bilhão em tecnologia e agronegócio, além dos empreendimentos de infraestrutura.

Embora o Brasil seja um dos poucos com superávit nos negócios com a Chi­na, enquanto nós concentramos as exportações em commodities como miné­rio de ferro e soja, os chineses exportam para o Brasil principalmente produ­tos de alta tecnologia, como componentes de informática e telefonia. Essa diferença reflete a política oficial chinesa, que privilegia a importação de ma­térias-primas para alimentar a indústria nacional e gerar empregos.

A viagem que fiz à China mostrou que a eficiência deles deve ser copiada. Nos últimos 10 anos, o PIB da China cresceu 150%, contra 30% do brasileiro, e os chineses têm-se mostrado superiores em termos de formação bruta do capital fixo, poupança doméstica (devido ao nível de consumo baixo), gastos em pes­quisa e desenvolvimento e infraestrutura. A poupança doméstica em relação ao PIB da China é de 55%, enquanto no Brasil é de apenas 15%, o que nos limi­ta, sem falar na carga tributária que naquele país é muito menor do que aqui.

O mercado segurado chinês gerou, em 2010, um volume de prêmios de US$ 224 bilhões, 30% mais que em 2009, com destaque para a participação dos seguros de vida

O país asiático vai superar o Japão como o maior consumidor de artigos de lu­xo em 2012, de acordo com um relatório da Associação Mundial do Luxo (WLA). Eles já ocupam o segundo lugar no mercado global, com 27,%, pouco menor que o Japão (29%), e superior aos Estados Unidos (14%) e à Europa (18%).

O país vem se tornando um gigante em seguros. A cultura do seguro está ainda menos consolidada que no Brasil, mas a baixa securitização também é uma ampla possibilidade de crescimento. O mercado segurador chinês ge­rou, em 2010, um volume de prêmios de US$ 224 bilhões, 30% mais que em 2009, com destaque para a participação dos seguros de vida.

A China constitui um mercado ainda pouco explorado que pode gerar bons negócios, as seguradoras chinesas que crescem podem começar a olhar para além do mercado doméstico. Nesse caso, o mercado de seguros, como outros se­tores do Brasil, estará na mira. Continuamos com duas possibilidades em aberto, que merecem ponderação. A China que nos impressiona pelas possibilidades tecnológicas e é um exemplo de como podemos fazer grandes negócios no nos­so país também nos mostra que o crescimento lá funciona com cuidados com o mercado interno. Os brasileiros devem atentar-se para no futuro não serem engolidos pelos chineses, que já mostraram que sabem fazer negócio.


Acácio Queiroz
Acadêmico e membro do conselho permanente de Acadêmicos

É presidente da Chubb Seguros, esteve recentemente na China para um intercâmbio de conhecimento com empresários locais.