É comum relacionarmos as condições de saúde do corpo com a idade que consta na certidão de nascimento. Mas as experiências humanas mostram que essa relação é um tanto quanto relativa. Quantos jovens e saudáveis “senhores” conhecemos? E quantos “velhos” e adoentados “jovens” conhecemos?
A idade que você comemora em seu aniversário é chamada de idade cronológica, pois ela está associada ao tempo que você vive aqui na Terra. Assim, a cada ano sua idade vai aumentando de forma contínua. Já a idade biológica, faz referência ao seu organismo e ao que você sente. Por exemplo, é possível que uma pessoa que tenha 65 anos, sinta-se mais jovem. Do mesmo modo, alguém que tenha 45 anos pode se sentir com mais idade.
Esse conceito, que já é importante, ganha mais relevância no cenário atual. Os dados estatísticos mostram que a idade é um fator de risco para o Coronavírus. Pessoas com mais idade estão mais suscetíveis às complicações da doença. No entanto, vemos diariamente nos noticiários pessoas mais jovens (sem comorbidade) com sérias complicações e muitas vezes falecendo. Isso pode ser explicado pela diferença de idade cronológica e biológica. A boa notícia é que também temos casos de pessoas com idade avançada vencendo o vírus.
É importante refletirmos sobre o tema, pois estudos da Organização Mundial de Saúde – OMS, mostram que a população mundial está cada vez mais doente. São mais casos de obesidade, diabetes, hipertensos, sedentários, etc… Portanto, grande parte da população é mais velha (idade biológica) do que pensa (cronológica). E isso reflete diretamente no momento atual.
É frequente as pessoas abaixo dos 50 anos se expor mais, não respeitando o isolamento e as medidas de segurança, pois acreditam que o efeito do coronavírus será leve ou assintomático. Porém, todos os estudos sobre a doença são com base na idade cronológica e não biológica. Portanto essas pessoas estão brincando de roleta russa com a Covid-19.
O coronavírus se mostrou o juízo final da qualidade de vida e prevenção a saúde. As pessoas com hábitos saudáveis, alimentação balanceada e com atividades físicas regulares, tendem a ser menos impactadas. Por outro lado, temos os sedentários, fumantes, diabéticos, hipertensos e uma série de outras doenças que são consequências dos nossos hábitos de vida.
Vamos fazer uma analogia com a escola. Os alunos que frequentam as aulas, estudam em casa e fazem as atividades complementares não tem preocupações na véspera da prova e muito menos durante a mesma. Mas, os alunos que não se prepararam querem compensar na véspera (o que quase nunca funciona). Na véspera ficam nervosos, preocupados. No dia da prova o pânico toma conta e o psicológico prejudica ainda mais o desempenho.
Estamos vendo essa analogia com muita frequência. As pessoas que nunca se cuidaram (idade biológica maior que cronológica) estão apavorados, pois não sabem a resposta do seu organismo diante do coronavírus. Quando infectadas a situação piora.
É comum relatos de crise de ansiedade. Pessoas com crise de ansiedade sofrem com falta de ar, mesmo sintoma dos casos mais graves da Covid-19. Esse quadro atrasa a recuperação do paciente e prejudica todos os envolvidos no processo (familiares, médicos e enfermeiros).
Não será fácil, mas essa crise será superada. Há um ditado antigo que diz: “há duas formas de aprendizagem: no amor ou na dor”. Infelizmente as lições que estamos aprendendo são por meio da dor, mas que sejam válidas para o futuro.
No curto prazo as seguradoras/operadoras devem alterar a base atuarial para precificação do seguro saúde e vida. O modelo atual é fortemente baseado na idade cronológica (faixas etárias) e alguns fatores conhecidos (afastados, internados, tratamentos). Com a explosão de informação causado pela digitalização e internet das coisas, será possível precificar os planos com foco nas informações biológicas: histórico de saúde detalhado, hábitos de vida, hábitos alimentares, histórico de prevenção, etc.
Enquanto existirem lacunas em aberto, existirão oportunidades e o mundo continua desesperadamente em busca de soluções.
*Jorge Abel Peres Brazil
Diretor e Head de Inteligência de Negócios na empresa Brisk Consultoria e Corretagem de Seguros, Diretor de Relações com o Segmento da Saúde e Membro da cátedra de Saúde da ANSP.
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