A resposta é sim. Quais as razões? De forma constitucional, temos três poderes no país: o executivo, o legislativo e o judiciário. São na proporção do PIB os grandes destinatários das verbas (diga-se impostos) não só do Brasil. Em outros países republicanos não é diferente daqui. O Estado, para funcionar, depende de verbas públicas e seus cidadãos dependem da atuação desses organismos. Sua complexidade e extensão são enormes, Pois tudo se multiplica nos milhares de municípios, dezenas de estados da Federação e no Distrito Federal. Os recursos consumidos são imensos e sem a atuação desses poderes teríamos uma grande anarquia.

Não podemos prescindir da existência do Estado e aqui não defendo o seu tamanho, pois não é este o objetivo da abordagem. Assim, não se trata de gostar ou de achar que poderia ser diferente, claro ficando que, quando a gestão de recursos é de ente público, tendemos a imaginar que o “Seu Estado” é algo visível, no mínimo no imaginário de cada um, mas na verdade é um composto de milhares de pessoas dedicadas a algum tipo de atividade pública, que tem ideologias e credos diferentes, com boa formação na maioria dos casos e que estão lá por força de concursos públicos, por eleições ou por nomeações. Nesses poderes, os que lá estão conquistaram seus postos com batalha e dedicação. Claro que existe o lado do jeitinho e das benesses, mas esses com certeza são minoria e também são mais passageiros.

Onde está o quarto poder? Na mesma linha dos três primeiros temos o Ministério Público, que do mesmo modo depende das verbas públicas e se forma com os mesmos princípios, pelo menos econômicos, dos anteriores. Atua em todo o país e não está atrelado ou vinculado ao judiciário. Ele é independente em todos os sentidos. Seu corpo é grande e tem musculatura suficiente para ser visto e sentido como um poder à parte. Não se trata aqui de uma definição ou teoria própria, mas de uma visão de uma instituição também muito grande que está intimamente ligada ao judiciário, mas dele não é parte subalterna. Juízes e promotores não são uma coisa só. São diferentes.

Bem, onde está o 5º poder? Está no cotidiano de cada um. A mídia que começa com o radinho de cabeceira, com o jornal que se lê, com a TV que mostra tudo ao vivo e com a Internet que noticia, “twitta”, “bloga”, nos serviços de mensagens via celular, nos grupos do Facebook, do Messenger ou do Orkut e por aí vai. Perguntas, reflexões e respostas acabam por nos provocar. Se reunirmos todo esses grupos temos, só pela ótica da formação de opinião, um contingente numeroso, poderoso, severo, implacável e importante para construir e destruir também.

Podemos imaginar que o 6º poder está constituído pela indústria, pelo setor químico ou farmacêutico, pelo setor petroleiro, pelas montadoras, pelo comércio, pelos prestadores de serviços, pelos sindicatos patronais ou de empregados, pelos bancos e financeiras e por serviços de seguros e previdência. Sobre este último, vale dizer que está cada vez mais aparelhado e com força suficiente para suportar todo tipo de demanda que a cada dia surge. A lista de setores econômicos não se esgota aqui e a resposta – à pergunta de que o 6° poder é um poder à parte – é não. A razão é muito simples.
Sabe-se da importância econômica ou social que cada um dos setores citados possui, porque eles são fortes e expressivos, mas isoladamente não têm a representatividade que os cinco primeiros possuem. Eles não atuam juntos. Eles podem às vezes estar juntos, mas isto não é suficiente. Claro que os quatro primeiros poderes, por força de sua forma, têm uma característica própria como organismo por serem um conjunto.

O quinto, que é a mídia, não é um conjunto como os quatro primeiros, mas está muito próximo de cada um de nós pela força de provocar ou de mudar a opinião, de derrubar ou de construir um mito ou de persistir até achar uma verdade que seja bem aceita ou não. Isto é feito por todas as formas da mídia. Não se trata aqui de se avaliar quem pode mais. A visão (insisto) deve ser de conjunto. O poder da mídia existe e convive com todos de uma ou mais formas. Assim, isoladamente, os setores econômicos citados não conseguem penetrar no seu cotidiano com a força que os cinco até aqui falados conseguem.

O 6º poder está batendo na nossa porta e é exigente. Atende pelo nome de FIFA e dura no mínimo até 2014. Sim, a “Fédération Internationale Football Association”. Existe uma coisa chamada de caderno de encargos para se organizar uma Copa do Mundo. A lista de exigências é coisa séria e não é brincadeira levar adiante tudo o que é exigido. Qualquer cifra passa dos bilhões de reais, para se organizar um evento que dura um mês, traz 32 seleções e milhares de turistas que vêm pelo prazer de assistir futebol, torcer pelo seu país ou na pior hipótese escolher outro, se o preferido for eliminado e, evidentemente, passear.

Claro que um evento deste é um dos passaportes para o primeiro mundo para nós. Atrativos e competência existem e se tudo for bem gerido, os frutos podem ser muito bons, não só pelos 30 dias da Copa, mas pelo que virá e ficará depois. Digo aqui que o menos importante são os estádios. Gastar muito dinheiro para elefantes brancos, não. Acomodações boas ou no mínimo razoáveis devem ser a têmpera, mas investimentos nas cidades-sedes ou das sub-sedes em infra-estrutura de transportes, hotéis, aeroportos, preparação de pessoas para atendimento, segurança e serviços ficarão como um bom legado e serão bem aproveitadas depois.

Aqui cabe uma reflexão específica para São Paulo. Não é importante para a cidade ter um estádio novo, seja na cidade ou em seus arredores. Qualquer cifra exigirá investimentos de no mínimo R$ 500milhões e não irá, pelo custo-benefício, nem de longe ser um bom investimento. Digo mais, que por sua própria característica, São Paulo já se sobrecarrega sem um evento muito grande, dirá o quanto suportará ou não suportará quando a Copa começar.

A sua estrutura pode ser utilizada desde que, com um mínimo de boa vontade e de logística, os turistas só utilizem a cidade para dormir, se alimentar, passear e se divertir entre os jogos, mas sem que os jogos ocorram em seus estádios. Melhor será para todos. Vamos admitir que a cidade fique com a abertura. Mas só com a abertura que deve ser num sábado. O Morumbi dará conta e o investimento deve ficar na linha do razoável.

Depois, todos os jogos devem ficar em outras cidades. Temos próximas a nós Curitiba, Porto Alegre e Belo Horizonte. No Rio, que pode comportar mais jogos, haverá dificuldades em acomodar os turistas e também entra a logística de transporte, que sem o trem bala poderá ser suprida. A final, nem se discute, será no Maracanã. O 6º poder já está aqui.


Fernando Pedroso Simões

Secretário executivo do Sindseg-SP e Diretor da Academia Nacional de Seguros e Previdência.