Passados os dolorosos momentos quando da partida para eternidade do meu querido amigo Manuel Póvoas, momentos esses que acompanhei a distância, por estar em viagem fora do país, venho agora, dirigindo-me a todos os amigos da Academia Nacional de Seguros e Previdência (ANSP), dizer do que pude conhecer de Manuel Sebastião Soares Póvoas, um simpático cidadão português que nunca conseguiu perder o sotaque, que era muito atencioso e sempre respeitado e admirado por todos aqueles que tiveram o privilégio de tê-lo conhecido.

Em 15 anos de convivência, minha amizade com Póvoas estendeu-se para o seio das nossas famílias; e são nessas situações que temos a oportunidade de conhecer melhor as pessoas e fazer delas um juízo do que realmente são.

“O Dr. Póvoas”, era assim que a maioria das pessoas o chamava, foi acima de tudo um homem construtivo. Digo isso porque para mim essa é uma das principais virtudes do ser humano. Ser construtivo é encontrar soluções para tudo, ou quase tudo, evitando-se o mínimo de perdas; e isso é de uma grandeza extraordinária. E o Póvoas era assim, por mais que situações exigissem críticas, reparos e penalidades a alguém, ele, sem fugir da pontualidade que cada caso exigia, era um crítico construtivo, do tipo: fecha-se uma porta, porém abrem-se duas. Minha mulher, Maria José, sempre me dizia: “O Dr. Póvoas é uma das pessoas mais educadas e gentis que já conheci”; e ela tem toda a razão, pois ele de fato buscava sempre tratar a todos, independentemente do sexo e da idade, com extrema delicadeza e atenção.

Na sua condição de intelectual, Póvoas exercia com extrema facilidade a capacidade de interpretar a vida, em todos os sentidos, e por isso gostava tanto de escrever. Lembro-me de certa vez, em sua gostosa casa no condomínio Transurb (perto de Cotia), debaixo das árvores, onde ele costumava dar frutas para saguis comerem diretamente em sua mão, ele haver me dito: “Olha senhor Mauro Batista (era assim que ele me chamava), se Deus me permitir, quero desfrutar ainda por muito tempo deste lugar; pois aqui encontro inspiração para fazer aquilo que tanto gosto: escrever”. Penso agora que ele deve ter deixado tanta coisa escrita (além do que conhecemos); e quem sabe até algo como a sua autobiografia.

A contribuição do Póvoas para o desenvolvimento do seguro e principalmente da previdência no Brasil é notória. Póvoas era um estudioso permanente da previdência complementar e tinha autoridade para discutir o tema em qualquer fórum, pois conhecia diversos modelos e experiências de outros países; e por isso inúmeras vezes foi convidado para ser conferencista em congressos e simpósios, não somente no Brasil, mas também além-fronteiras, pois seu nome era prenúncio de sabedoria e credibilidade.

Sua trajetória profissional, tanto em Portugal como no Brasil, experimentou muito sucesso e ao longo da nossa convivência posso afirmar sem nenhuma dúvida que ele se realizou pelo trabalho, naquilo que escolheu como carreira.

A dedicação dele, na construção da ANSP que hoje temos, será para sempre reconhecida como um grande legado deixado em prol do aperfeiçoamento das instituições do seguro e da previdência privada no Brasil. Quando ele foi convidado pelo fundador da ANSP, o jornalista Fernando Silveira, para desenvolver a Academia, dedicou-se de corpo e alma para fazer uma entidade que, desvinculada do negocial da indústria, pudesse tratar o seguro como uma conquista de todos os povos e que por isso precisava ser debatido e modernizado no decorrer dos tempos e em todos os lugares. Ele entendia que não haveria melhor fórum do que a ANSP para tratar disso.

A última vez que estive com ele foi poucos dias antes da viagem que fez a Portugal (a primeira depois da morte de Maria de Lourdes), ficando lá por quase quatro meses. Naquele dia almoçamos juntos e eu o levei até sua casa. Ele estava feliz e sereno e demonstrava a vitalidade de sempre. Voltamos a nos falar no dia 13 de agosto, quando ele me ligou de Lisboa para felicitar-me pelo casamento de minha filha. Não falamos mais e todos esperávamos pelo seu regresso previsto para o dia 2 de novembro, como de fato ocorreu.

Sua súbita morte deixou-me muito triste e, tenho certeza, um vazio muito grande dentro da ANSP; e uma saudade imensa entre todos nós. Creio que espiritualmente ele será sempre uma luz viva, que motivará a nós e aos que nos sucederem na condução da Academia. Por isso, conclamo a todos os acadêmicos e membros do Egrégio Conselho a se inspirarem em Póvoas para continuarmos a trabalhar no que ele tanto queria: fazer a ANSP avançar no tempo, contribuindo para o aperfeiçoamento institucional do seguro, da previdência privada e das atividades correlatas.


Mauro Batista, Presidente