Temos que começar a ter ideias para que o setor de seguros amplie o entendimento da população a respeito da importância e das vantagens sociais, econômicas e financeiras que o seguro pode proporcionar.

Em 2005, o então presidente da FENASEG, escreveu um artigo que mostrava a ideia de se ter “um dia sem seguro”, para que todos nós, seguradores, securitários, corretores, leigos e segurados de um modo geral pudéssemos analisar a catástrofe que teríamos caso isso ocorresse.

Podemos dizer que se ocorresse esta situação a nossa análise teria que ser baseada em três aspectos de fundamental importância. Um seria a própria importância do seguro, o outro as consequências de sua falta e, por último, as vantagens que ele transmite.

Nem tentamos chegar ao consumidor de seguros e à população de um modo geral para mostrar de forma clara, objetiva e até sincera o que é o seguro, como chegar até ele e como usufruir dele. Óbvio que tomei um choque.

Todos os artigos, livros escritos no mercado de seguros são direcionados ao próprio mercado. Sejam eles de cunho administrativo, econômico, mercadológico, jurídico e até atuarial. Nada direcionado ao público alvo.

De certa forma houve uma tentativa de estimulo visando o surgimento de produtos para consumidores de baixa renda como o micro seguro, mas com uma expectativa frustrada pelo volume de prêmios arrecadados, talvez pela falta de produtos que iria atingir a população de baixa renda, porém nota-se que falta o mercado aproveitar para estudar produtos que sejam adequados a este público que poderiam ser por exemplo: um seguro com coberturas de vida; invalidez; assistência médica e auxilio funeral olhando o lado de pessoas, e no lado de bens poderíamos ter coberturas de incêndio, desmoronamento e enchentes numa parceria com resseguradores; incêndio e um seguro saúde para atendimento emergencial em ambulatório, o que iria baixar os custos enormemente possibilitando que a população de baixa e baixíssima renda pudesse adquirir.

Se voltarmos a 30 anos atrás, vamos lembrar que após pesquisas feitas pelo instituto Gallup, verificamos que 75% das pessoas entrevistadas, em vários segmentos da sociedade, não conheciam o que era uma seguradora e quais as suas finalidades.

Não sei se hoje o panorama seria esse através de nova pesquisa em razão não só da globalização, mas principalmente nos dias atuais a uma catástrofe como esta pandemia que é o Coronavírus. Porém era um dado estarrecedor para um sistema econômico que começava a crescer e despontar no cenário macroeconômico brasileiro.

Mas, a que devemos atribuir o aparente paradoxo verificado entre o crescimento das seguradoras, se comparado com o restante da economia brasileira, e o relativo desconhecimento, constatado entre a procura e a própria instituição do seguro?

As causas, sem dúvida alguma, são conjunturais e espelham o condicionamento a que se encontram submetidos largos setores da produção no desenvolvimento da nossa economia e dos seus reflexos sociais, dos quais, o mercado segurador é mera consequência.

Quer nos parecer, que, na realidade, também, a oferta pouco conhece da procura e, muito possivelmente, tenham ambas, nos últimos 40 anos, travado um verdadeiro diálogo de surdo mudo.

É visível que a nossa propaganda jamais chegou a sensibilizar a procura, e os esforços para isto, realizados individual e coletivamente pela instituição nunca chegaram a ter seus resultados sistemáticos e suficientemente avaliados, quanto ao grau de conscientização por ela provocada nos vários segmentos sociais e tampouco ,em que intensidade seus feitos se fizeram sentir .Hoje, existe um questionamento sobre a cobertura do seguro de saúde e vida e no caso de uma pandemia se teria cobertura ou não? Nas condições existentes ela está excluída, mas o mercado sabiamente resolveu conceder a cobertura dos sinistros ocorridos e provenientes desta praga que é o Coronavírus.

Precisamos mudar a estratégia do jogo para que os resultados positivos apareçam. Muita coisa aconteceu e foi feita nos últimos anos. As reservas do mercado já atingiam em 2019 mais de 1 trilhão contra 108 bilhões em 2005. O faturamento de seguros, capitalização e previdência aberta que era de 65,6 bilhões em 2005, para 201,1 bilhões em 2013, e em 2019 mais de 250 bilhões. O mais importante que deve ser dito o mercado de seguros retornou em pagamentos de indenizações aos seus segurados 39,8 bilhões em 2009, e em 2013 chegou a 107,8 bilhões de pagamento e em 2019, a 50% mais ou menos 130 bilhões.

O Seguro tem características sociais especificas que o distinguem das indústrias de bens tangíveis. O Seguro é um bem que se paga adiantado e cujos benefícios se recebem no futuro. Os custos do seguro são desconhecidos ao estipular-se o prêmio e muitas vezes os seguradores se veem tentados a cobrar pouco, ou então cobrar muito, na maioria das vezes movidos pela própria concorrência, portanto o contrato de seguro não é fácil de entender.

Sem a existência de seguros, as pessoas e as empresas prejudicadas por eventos incertos podem ir a falência e ter que se apoiar em familiares, em organizações não governamentais e no próprio governo. Vejam, e se não tivéssemos seguro para cobrir as grandes catástrofes que ocorreram nos últimos 15/20 anos como o atentado de 11 de setembro, os furacões Katrina, Wilma e outros? É preciso que a indústria de seguros mostre à população brasileira que ela canalize poupanças para investimentos produtivos. As seguradoras investem suas reservas em títulos de emissão do Governo Federal e outros ativos a fim de capacitá-las ao pagamento das indenizações decorrentes de eventos com danos.

Precisamos divulgar isto aos clientes. Muito se pode fazer através dos órgãos institucionais do mercado com esclarecimentos à opinião pública, debates em universidades, esclarecimentos em escolas de ensino médio mostrando que sem seguro nós podemos ter catástrofes muito maiores que os terremotos e tsunamis, isto em termos de grandes eventos, mas também temos os nossos automóveis, nossas casas, vidas e saúde, que na falta de um seguro podem deixar a família em desamparo total.

Portanto, eu diria que a importância do seguro na vida das pessoas, das empresas e da sociedade em geral é crucialmente importante e fundamental, pois a sua falta traria consequências nefastas, difíceis de dimensionar. O Brasil cresceu muito nesta área da economia, mas falta uma maior aproximação do cliente para que conheça exatamente os benefícios de uma atividade intrigante e desconhecida, não só do grande público, mas também das camadas mais intelectualizadas do País, seja do judiciário, do executivo e do legislativo, além de empresas e empresários. Quem sabe este distanciamento se dá até pela terminologia que empregamos em nossa atividade, e por isso precisamos mudar. Não é de todo possível imaginar uma sociedade moderna sem uma forte e expressiva participação do seguro. O mundo se globalizou, as mudanças ocorrem a cada segundo e nós do mercado precisamos mudar o enfoque conceitual de como mostrar ao nosso cliente este “desconhecido”.


*Lucio Antônio Marques

Diretor da ANSP – Academia Nacional de Seguros e Previdência.

 

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