A Academia Nacional de Seguros e Previdência – ANSP – tem um projeto fascinante, chamado “Memória do Seguro”. São entrevistas com acadêmicos que contam sua trajetória profissional, desde o início da carreira até os dias atuais. Neste percurso, surge a história do seguro no Brasil, da década de 1960 para cá. É uma história rica e importante para entender muita coisa que aconteceu na economia e na vida empresarial da nação.

Através dos depoimentos é possível rastrear a evolução de um segmento econômico que, há 30 anos, representava menos de 1% do PIB e atualmente comparece com algo próximo de 6% para o resultado da conta.

Fica mais fácil entender porque as resseguradoras agem como agem; por que não aceitam determinados riscos; por que tantas vieram para o Brasil; por que estão se decepcionando com o país.

Dá para entender como e por que o seguro de veículos de patinho feio, na década de 1980, se transformou no carro chefe do mercado, com forte peso, capaz de mudar o resultado consolidado do mercado até os dias de hoje. Fica clara a opção feita pela Porto Seguro e as consequências do profissionalismo dessa seguradora no trato do seguro de veículos, não apenas como gerador de prêmio, mas como ferramenta para colocação de outros produtos e serviços que diferenciam atuação de uma seguradora.

Nos depoimentos surgem passagens fascinantes que, de uma forma ou de outra, auxiliaram a formatar e dar cara ao mercado. Nem tudo o que foi feito deu certo ou gerou frutos de longo prazo. De outro lado, algumas soluções engenhosas, como a adoção de índices para permitir o recebimento dos prêmios e o pagamento das indenizações no período de hiperinflação, permitiram que produtos em princípio condenados pela desvalorização da moeda conseguissem não apenas se manter, mas cumprir sua função social, como foi o caso dos seguros de vida em grupo nas décadas de 1980 e 1990.

Não fosse a engenhosidade dos profissionais do setor, não haveria como o seguro de vida poder existir num cenário adverso, como aconteceu com a economia nacional naqueles anos. O seguro de vida em grupo é um seguro de morte, sem qualquer capitalização ou poupança. Sendo um seguro de pré-pagamento, com a substituição do capital segurado em moeda corrente por um índice a ser corrigido até a data dos pagamentos dos prêmios e das indenizações, ele se mostrou viável e uma ferramenta importante para a proteção social, num período economicamente conturbado da vida brasileira.

Através dos depoimentos também é possível se entender a importância dos pacotes multirriscos para os seguros patrimoniais nos dias de hoje. Como eles foram pensados, por que praticamente acabaram com a tarifa de incêndio como ferramenta para taxar este tipo de risco, etc.

O projeto “Memória do Seguro”, além de preservar a história do segmento, com passagens desconhecidas trazidas à vida outra vez, nas palavras de diferentes personagens que participaram ativamente do desenvolvimento do seguro brasileiro, serve de vitrine para se conhecer pessoas que, na sua época, foram fundamentais para a consolidação do setor.

No mundo nada é de graça. Cada ação gera uma reação. É assim que as coisas caminham desde que o primeiro antepassado do homem sapiens desceu da árvore para começar a viver no chão, o que o levou a caminhar em duas pernas.

O seguro não é tão antigo, mas sua história no país, iniciada com a vinda da família real portuguesa em 1808, é rica, bonita e edificante.

Além disso, serve de base para análises do desenvolvimento socioeconômico do brasileiro das diferentes classes sociais. Através da penetração do seguro é possível estudar o amadurecimento das diferentes camadas da população, sua tomada de consciência quanto à necessidade de proteger a vida e o patrimônio, a evolução da compreensão de relações mais sofisticadas, a ideia de poupança e solidariedade, etc.

O projeto “Memória do Seguro” é a enciclopédia do setor, mas, ao contrário dos textos frios dos verbetes das enciclopédias, ele traz uma história gostosa de ser conhecida, contada com detalhes inusitados, por quem participou ativamente dela.

Antonio Penteado Mendonça

Fonte: Sindseg SP 

 

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